segunda-feira, 29 de março de 2010

Velharias poéticas II

Arrisco uma carta. Mais uma noite insone. Noite que encerra em si uma coisa densa, quase pegajosa: no escuro traça-se um pensar táctil, discreta fumaça de incenso a refletir a lua. Essa, toda azul, sorve o fluxo – delicia-se. Despeja tons, não tão sonoros – um diapasão de luz.
    Ondas irradiam, preguiçosas. Meros pensamentos, que flutuam frouxos; ou tornam-se arredios rente aos azulejos, onde reverberam, inter-amplificando-se e escoando muro acima.
    Paredes: inertes obstáculos que obrigam a maré a dar voltas para alcançar suas metas. Uma linha reta e seu imediatismo nato nos levariam até lá com muito menos do tempo – que, tão pouco, temos – para cruzar as eras e aparar as heras, melhor passeando pelo jardim algum.

    Ícones solícitos, símbolos, signos. O sono que não vem. Hotel dos olhos, uma tela se expressa. Na boca, um balde de saliva seca. No ouvido o vão ventilar das pás e os estalos do teclado percutido, seguindo um fio de assunto cerzido pelos dedos, seus dedais e idéias ideais. Idéias comuns também, claro. Muitas delas.

Só no corpo, um oco vazio... de um silêncio absurdo!

    Menos mal do que ter maus sonhos, pesados pesadelos de quem adormece temendo até travesseiros.

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