sexta-feira, 30 de julho de 2010

O 'Caso Bruno'...

Vim caminhando pro trabalho pensando em comentar alguma coisa sobre o 'caso Bruno'. Até por que, ainda que a contragosto, acabei demonstrando uma curiosidade mórbida sobre a situação do cara. Sei lá se por ter ido vê-lo diversas vezes no maraca, ter torcido tanto pra ele, de já ter especulado tanto sobre o tema - que foi ele, que foi o Macarrão, que não foi ninguém, e a Elisa continua viva - e observar essa queda brutal e toda a sua ironia: de aspirante a goleiro titular da copa do mundo no Brasil a detento, preso por um suposto crime que, se confirmado, foi deveras estúpido. Ou mesmo por me admirar com a capacidade afetiva do sujeito. Jamais, em minha breve história emocional, sequer conheci alguém que tivesse mulher, amantes, noiva E (!!) um boneco com  uma genérica do mundo da bola. O cara é, digamos, pau pra toda obra!

No fundo, o que mais me incomoda nisso tudo é perder o tempo que a imprensa parece desejar que eu perca pra saber que 'o novo careca da prisão afirmou que odeia o mengão'... Em compensação, algumas piadas sobre o assunto são realmente hilárias!

Soube pouco do Nardoni, alguma coisa sobre o filho da Cissa (pela insistência!). Virtualmente nunca assisto telejornal e, dos da banca, leio só as capas. Leio somente o que me interessa e - curioso, rapaz! - me interesso por cada coisa! Fico meio por fora de diversas 'comoções' nacionais, embora tenha fissurado o quanto pude com a copa, mesmo na minha televisão analógica 3D, sem o óculos!

'Ia' escrever algo, mas acabei achando um texto que fala tudo o que queria dizer, com muito mais poder de síntese e até mesmo mais estilo... Afinal, encaixar a relação entre agricultura e monogamia no meio disso tudo foi, sem dúvida alguma, genial!

Segue a dica:

http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4594793-EI8423,00-O+caso+Bruno+e+voce+nada+a+ver+tudo+a+ver.html

Em tempo, não conheço o autor, não sou amigo dele, e não ganhei jabá pela indicação... Ademais, caso seja necessário, posso assegurar que, pelo menos eu, nunca comi a menina (alguém tinha que ficar de fora)!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

E amor acaba?

Se acaba eu não sei, mas conheço uma infinidade de técnicas para soterrar um sentimento, que usamos, em geral por razões táticas, como defesa.

Quando alguém caro se transforma numa presença intolerável, ou simplesmente desaparece, colocamos seus vestígios numa caixa e atiramos sobre ela toda sorte de desconforto, que produzimos em profusão enquanto estamos tristes. Mágoas, inseguranças e frustrações aliadas em forma de mau ruído, que corrói por dentro a cabeça, o estômago, o coração...

Preferimos ver o lado negativo de tudo aquilo, nos arrependemos de estar inteiros nos momentos lindos, por estarmos muito abertos, por estarmos entreges a alguém que vai embora, ou se tranfosma numa presença intolerável.

O amor é uma coisa mágica, que acontece muito de vez em quando. De fato, a busca por ele, movimenta o mundo. Instintos nos empurram, um para cima dos outros. Atendemos o impulso de permanecer às turras. E muito pelas expectativas, pelo que espreitamos de amores outos e supomos querer pra nós. Tudo muito complicado pro ato mais simples para o qual fomos programados. Vontade absoluta, instantânea. Um foco obsessivo, que a gente até tenta transpor, sem muito sucesso, para outras áreas de atuação. Oferecer o êxtase dos sentidos, sempre! E ter muita gana de consumí-lo.

Tendemos a achar que o outro tem a chave dessa nossa caixa de pandora. E entregamos as chaves de acesso ao sumo de nossas delícias, deixamos que decida o que fazer com elas. Idealizamos interpretações mediúnicas de nossos desejos; que as portas se abram no exato instante em que passamos, ou nos precedam por instantes, definindo nosso caminho. E que esse processo acelere, quiçá, a passagem pelas portas do imenso labirinto que nos cerca a que estamos condenados.

Em geral, chafurdamos na burocracia afetiva, emitimos e pagamos boletos com total presteza, iludidos de estar fazendo o melhor negócio! Mas jazimos, feito baratas, sobre o marasmo da espera. Que a pessoa chegue, que não vá embora, que te preencha as brechas, te complete, te ature, te queira, te beije, te cheire, te cuide, te abrace, te escute, te sinta; que se sinta completa contigo, que não tenha dúvidas, desejos, amantes, segredos, passado... Sorvemos - ávidos - o alento que compensa o ritmo em que as coisas fluem. Queremos alguém que nos faça perfeitos!

No fundo, contudo, você se completa só. E, aí sim, vai compartilhar o quanto pode. Com a coragem que tiver, com os medos. A gente insiste em complicar as coisas. Afinidades são sutis, mas poderiam ser melhor expressada, se quiséssemos.

Encontrar alguém especial é uma coisa rara. E eu conheço muito pouca gente que não queira.

Ademais, uma marca pode ser eterna, mesmo que um relacionamento não seja.

Ojalá, sê boa, a lembrança!

Sem dúvida, alguma coisa o foi.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Pela anexação das Guianas

Nunca antes na história desse país, esse país foi tão grande.

Ninguém aqui conhece ninguém de lá.

Ademais, imperialismo é normal, sempre rola, em qualquer época, ou lugar.

Pela anexação das Guianas, já!



Rumo à Rússia!

Seremos, em um futuro próximo, o MAIOR país do mundo!!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

De pombas, galinhas e bundas.

Quase sempre caminho numa velocidade muito acima da média. Na verdade, vendo muito caro qualquer tentativa de ultrapassagem e, mais de uma vez, assisti meus oponentes improvisados afastarem-se lentamente em uma releitura da marcha atlética, ainda mais patética pela falta de contexto. Afinal, provas de marcha atlética chegam a provocar uma ponta de vergonha alheia e, em geral, só se consegue tolerar a estranheza do rebolado pelo fato de todos estarem, ao mesmo tempo, fazendo aquilo.

Algumas vezes, os insolentes que ousam impor sobre mim suas agilidades precisam mesmo arranhar um trote, nem que seja para abreviar o constragimento do momento (largo pela diferença minúscula de velocidade) em que emparelhamos. Hoje, passava por um senhor, em disparada, quando escutei o primeiro grito:

- Ahhhhh.

Me virei assustado para ver que ele levava a mão esquerda á testa. Acredito que a enxugava com um lenço, ou simulava este movimento. Mas o sujeito insistia em se pronunciar:

- Ai, ai, ai, mas assim eu não aguento. Como é que pode, rapaz, uma lindeza destas? Isso não é uma mulher, é uma tetéia!

De fato, mesmo com pressa, afrouxei o passo para observar o motivo da exaltação do senhorzinho. Uma bunda realmente bonita rebolava logo à nossa frente. Nada de exagero: tamanho exato; formato perfeito; empinamento consistente; marca sutil da calcinha, interessantemente pequena (pra mim, que não gosto de fios dentais, nem para passar nos dentes, nem para os assistir 'cobrindo' bundas), por baixo do jeans escuro; e um movimento enlouquecedor de quem parece saber que quase mata os velhinhos e atiça mesmo os garotões como eu.

Tive o impulso de comentar com ela que, realmente, estava deslumbrante, mas não tive tempo. Já quase alcançava a moça quando ela parou bruscamente para observar sua maquiagem no espelho que havia na coluna de um bar. De relance, vi o rosto que parecia não comprometer o conjunto, até porque a maioria dos homens não olha para cara de ninguém, e mesmo a minoria que observa outros atributos (dentre os quais, me incluo), costuma dar generosos descontos a assimetrias, protuberâncias desmedidas e qualquer outra inconsistência facial. Afinal, mesmo as mais fracas de feição causam frissom em caso confirmado de presença de outras qualidades, digamos, 'pronunciadas'.

Bem, é uma estória boba, eu sei, e, no fundo, belas bundas abundam. Ademais, o batom laranja que percebi no mesmo relance em que avaliei o rosto da protagonista da cena, me passou a impressão que ela teria, além de um conteúdo imprevisível, uma voz especialmente estridente.

Mas o que faz valer o relato - como sempre, aliás - é a fraquíssima teoria que o acompanha. Neste caso, percebi que, enquanto eu gosto de andar rápido, mulheres, em geral, andam com mais tato. Parecem conhecer - especialmente as belas, em qualquer acepção possível do termo - muito amiúde, a reação que causam nos mais diferentes 'públicos'. E eu sou mais bronco, atravesso, passo como um tanque. Ignoro, quase solenemente, se me encaram a bunda, ou outros atributos, e isso talvez não seja muito estratégico.

Por fim, para os bravos guerreiros que conseguiram chegar até aqui, após navegar neste infindo mar de baboseiras, gostaria de destacar a provavelmente imperceptível sorte que tiveram: também no caminho pro trabalho, assisti uma outra cena peculiar que, assim como a bunda e o delicioso sol de inverno que aqueceu a manhã, contribuiu sobremaneira para a minha felicidade parcial (até o momento, tudo ok!).

Faz tempo que não via disso, mas na rua dos bares especializados em todo o tipo de peixe, pela qual passo diariamente, há um matadouro. Um aviário, sei lá. Sei que é um lugar onde vendem galinhas e variantes, ainda vivos ou recém abatidos! Ali, além do inusitado de 'aceitarem jornais' como doação, paira um cheiro talvez pior do que o do ralo do meu banheiro.

Sempre passo olhando curioso para os frangos, galinhas e perus, apesar do olhar perdido que me retribuem, e penso no que pensam durante o tempo que têm antes de virar coxinha, outros quitutes, ou mesmo um despacho... Na cena de hoje, inédita, dentro da loja ainda fechada (é uma grade, se pode ver todo o interior), um pombo encarava os seus amigos de Classe (Recordar é viver: Reino, Filo, Classe, Ordem, Gênero, Espécie, sub-espécie). Todos, sem exceção, aves. Talvez pensasse, perplexo, que o fato de não ser tão saboroso lhe salva a vida e o mantém livre, ainda que não muito benquisto.

Mas se os atributos das pessoas, tal videogame, fossem escolhidos antes da partida da vida pelo próprio usuário do avatar, duvido que alguém escolhesse ser mais longevo em detrimento de ser mais desejado e, em suma, mais comido!

sábado, 24 de julho de 2010

Lar doce

Estava no banheiro, com a porta entreaberta como de costume. Olhei pro lado do espelho e pensei: porra, tô na minha casa! No reflexo, acima da minha testa, via a janela para pedra que há ao lado do chuveiro, um mistério insondável de minha nova residência, e especulava sobre a consistência da parede contígua, pensando em instalar ali, num futuro impreciso, um box blindex classic! Depois dos armários, juro que arrumo um dinheiro para reformar o banheiro, colocar azulejos coloridos, caso o restante da casa permaneça branco, o que é improvável, já que o branco dá tanto trabalho. E sujeira tem me incomodado ao ponto de quase levantar e sair limpando tudo. Já acordo encarando um pequeno bolo de pêlos de todas as naturezas e consistências. O auto-questionamento anatômico é constante: de onde proveria cada exemplar? Tenho comigo que, com o tempo, poderei precisar a origem de cada fio por sua cor, suas voltas, seus comprimentos... No fundo isso pode ser interessante, e me agarro à esta possibilidade.

Mas o ralo do chuveiro não é nada interessante. Ele permanece vedado, guardando lá dentro um cheiro hediondo. Não chego a temer que exploda, mas me incomodo sinceramente de ter um escoamento tão precário para meus banhos e ar tão irrespirável para o meu banheiro sem janelas outras que aquela. No fundo, o ralo é um buraco na pedra sobre a qual meu apartamento está estabelecido. Sim, o que a aparece na insólita janela para o nada de meu banheiro, nada mais é do que a ponta de um enorme iceberg de pedra ou, buscando maior precisão lingüística e trocadilheira, um rockberg!

Um dia contrato alguém munido de marreta e ponteira – e cheio de marra – para instalar ali um sifão decente, e manter distante o olor maldito que espalhamos pelo mundo, dada nossa forma particular de produzir energia. Pra piorar, acabei lendo que ralos drenam, além da água, energia. Nele se esvai parte do que produzimos com garfos, do que processamos descansando, do que arrancamos do mundo nos damasiadamente raros arroubos de felicidade.

E, como do 'Chi' a gente nunca sabe quando vai precisar, tenho preferido acumulá-lo, para qualquer eventualidade. Para enfrentar com valentia o enfadonho ciclo da roupa, os pêlos implorando para serem varridos, e a pia, que clama por uma ducha fria... E, como se já não bastasse, tudo poderia ser mais simples, mas a roupa amassa enquanto lava, venta sempre que se varre e a pia, não se sabe como, JAMAIS consegue ficar sozinha, vazia.

Ter uma casa é uma aventura indescritível. Sei que fracasso terrivelmente ao contá-lo, atento ao fato de que, quem gosta de reclamar, adora reclamar do que gosta, reclamo dela (a casa), dos amigos, e até da lindeza da minha filha. E sou, como quase todo mundo, bastante feliz assim. Como sou.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Terça terçã

Graças a qualquer coisa, não se pode filmar o que acontece dentro de nossas cabeças. Seria algo realmente constrangedor observar que é exibido, tal filme, o que estamos pensando.

Passei a noite nisso, evitando e, quando possível, omitindo...

Na verdade, não. Tenho uma insólita capacidade de ser desconcertantemente sincero. Hoje, menos sonso, percebo a reação das pessoas, e que nem sempre sou feliz em minhas colocações. Mas sinto cada vez menos dificuldades em expressar exatamente o que penso. Na verdade, se formos analisar mais profundamente, tomando a noite passada como referência, de fato me deixei quedar em assuntos já esgotados, isolado num canto, ligeiramente acompanhado; fui menos incisivo do que ‘gostaria’ com algumas situações afetivas, como sempre, aliás; pareci arrogante em alguns momentos, embora, ciente de mim, tenha me desculpado ostensivamente, obcecado por conviver que estava; ri como um louco de chistes meus, e alheios; expressei-me aos gritos, ao ponto de ficar rouco; especulei sobre revoluções, ainda que ainda queira ficar rico; fui indiscreto, talvez em demasia, sobre minha atual situação; revelei segredos sobre o funcionamento dos homens para mulheres; indaguei sobre o monopólio do samba, ou da tradição da moda; comprei muitas três cervejas por cinco; carreguei a mochila e o livro que nela leio por osmose durante toda a estada; por fim, encarei a estrada recusando convites – fica!, diziam; e nem caí cochilado no meu coletivo, que veio fulminando o asfalto. Apenas poucos instantes de um relaxamento estranho (levanto os joelhos, apoiados sobre o banco da frente; ora pés pendentes, ora postura iogue de calcanhar na bunda, ou sob esta, em configurações momentaneamente confortáveis), típico de pessoa esquecida pelas médias, imprevista para o espaço disponível. Não lembro onde saltei para me socorrer num taxi. Fomos voando. O motorista mudo enquanto eu me desconectava de frases soltas e, em geral, inaudíveis. Acabei chegando em casa, quase sem perceber... Minha casa! Amo chegar na minha casa!

Mas preciso voltar do relato rico para a filosofia barata, baratinha. Uma pexincha!

Falava sobre o ato de falar. E como, além da sorte, alguns recatos nos podem encaixar numa comunicabilidade mais branda, que acaba gerando dividendos neste gigantesco jogo da vida (da Estrela? Ou Grow?) que compartilhamos. Na escrita, talvez seja mais difícil ser completamente espontâneo. O tempo é muito para refletir sobre o que pode ser dito. E os recursos para apagar são vastos. Refazer é fácil, ao menos desde que inventaram a borracha. Hoje, ainda mais frenético, há uma tecla para apagar o que teclamos com as outras. Pra ela, criaram verbo na nossa língua. Reformulações épicas foram rebaixadas a atos banais. Criou-se a super-escrita, arriscaria, com muito medo de errar depois da última reforma de ortografia.

E a gente fala o que pode, o que consegue alcançar. Entre um trago e outro do cigarro. Entre um trago e outro, traz à tona o que imagina. Vara o mundo, sujismundo, clandestino, vira a noite escrevendo poesia. Vê o verbo enquanto vaga a madrugada embriagado... Delírio de lira ao longe.

Corri até o ônibus, quando ainda lá. Gritei, gritaram. Já quase ia, o bicho. Entrei – boa noite... bom dia! – e receberam o meu cartão. Vim, daquele jeito já dito. E aqui estou, viajando...

Preciso dormir, eu e meus micos.