sábado, 30 de janeiro de 2010

O mamute

Carrego um mamute sobre os ombros.

Tolero bem as pessoas e, com exceção de raros caso de antipatia espontânea, me apresso em tentar entender as eventuais limitações, dificuldades ou caprichos de meus interlocutores. Admiro o mais singelo indício de pensamentos interessantes que eles verbalizem.

Mas comigo tenho uma postura diferente. Cobro reações imediatas, especialmente em casos de dúvidas paralizantes. É que elas, às vezes, me assaltam - e eu sucumbo, paradiço. Questiono cada passo do processo, fechando o ciclo vicioso. Em suma, especialmente por me afobar com as paralisias movidas à perplexidade, é que fico tantas vezes perplexo e, tantas outras, paralizado.

De uns tempos pra cá, contudo, alguma coisa vem mudando. E agora, de volta do fórum social mundial, o quarto, quase dez anos depois do primeiro, apesar da autocrítica abundante, tenho quase certeza de que uma pedra enorme se moveu dentro de mim.

E, se aceito isso, é porque venho vendo, até nos desenhos animados que assisto com minha filha, indicações de uma vivência mais pacífica comigo.
Afinal, a verdade pura pode ser, até com certa facilidade, expressa, discutida. A iluminação pode aparecer clara, cristalina, mesmo no discurso mais obtuso. Mas um jeito próprio de vivenciá-la é um segredo infindo para a maioria das pessoas, mesmo muitas daquelas que tem segurança de tê-lo desvendado. Se bobear, na verdade, convicção no que quer que seja basta.
Estou procurando saber como esclarecer-me... E escrever, para mim, normalmente ajuda. Acabei me convencendo disso. De novo.