sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Salário pouco

Eu com o meu salário pouco, já com filha pra criar, venho das melhores famílias.
Tem gente que nem família tem.
E tem bravo que tem família que precisa mais que ele, e tem seu dinheiro-nada, menos que meu salário pouco, mas dá.

O mundo é assim: absurdo.

Tem um monte de sujeito de terno. Ternos novos, e ternos velhos.
Só não tem terno eterno – porque ainda não inventaram.
Mas inventarão, não só o terno, mas o homem eterno – aquele que transita as gerações.
Ele não fica velho, é vida pura e inteira.
Sem termo, sob os ternos eternos que, certamente, envergarão, vigorariam a fio.
Seriam seres de luz.
E grana, claro.

Porque o resto dos homens, ainda sem ternos, sequer os velhos,
estes seriam do chão, e dele se sujariam com a reviravolta dos ventos do tempo.
Envelheceriam junto com o terno que teriam,
se terno não fosse – há muito e ainda naqueles dias – distinção.
E eles continuariam vulgares, comuns. Seriam da tradição.
Suporiam que o não passar do tempo pode ser bom, ou não.

Muitos passariam a vida tentando comprar seus ternos, outros sua vida eterna.

Mesmo que todos passem na vida comendo pão. Alguns com baguetes e brioches, outros com migalhas de franceses. Outros ainda, só com fruta-pão. E rapadura, que é doce, mas não é mole...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Comida japonesa

Fui no restaurante de sempre com os amigos. Bem, já não é mais tão o 'de sempre' porque é um pouco caro e, com essa questão de obra, viagem e outros desejos consumistas esperando o momento certo para atacar, tenho pensado em economizar em tudo. E como quantidade é uma prioridade para mim, comer num restaurante caro que te pesam o prato é contraproducente...

Em suma, o restaurante é bom, comida boa, espaço suficiente, atendimento satisfatório, muito próximo ao trabalho. Muitas opções, do árabe ao bom bife, passando pela feijoada, uma salada farta e algumas opções de comida japonesa.

Nesse dia, foi eu entrar e salivar por um cheiro conhecido... Acho que era do Hot Filadélfia... Me deu um desejo danado de comer comida japonesa - já não comia havia algum tempo. Então, foi o que fiz... Até esqueci do rolinho frito, e parti para os tradicionais... Enchi o prato!

Mas não sei o que me deu...

 Já ouvi, meio de soslaio, provavelemte aqui no trabalho, que a comida japonesa neste tipo de restaurantes não é tão boa. E pode até ser verdade, mas, com meu paladar de avestruz sem língua, jamais me dei conta. De fato, já comi alguns sushis extremamente mal-ajambrados, mas sempre me pareceram deliciosos. Gosto de choio, sabe!? Enfim... O que acontece é que, por essa afirmação, coletada aleatoriamente, até hoje fico um pouco embaraçado ao demonstrar toda a minha gula nipônica dentro dos self-services, mesmo os melhores.

Ademais, o restaurante em questão fica tomado por pessoas do meu trabalho. É quase um refeitório nosso. Assim que, enquanto esperava para pesar o meu prato, tentava esconder o seu conteúdo dos passantes, diversos conhecidos de vista. Por incrível que pareça, uma questão razoavelmente profunda sobre o que será que as pessoas pensariam de mim por comer aquela comida japonesa de qualidade não mais que mediana subiu, em espiral, até a superfície do meu pensamento, onde estava minha atenção. E já estava virado completamente para parede quando me dei conta do absurdo!

Continuei escondendo o meu prato dos colegas superchiques, que vão aos caríssimos restaurantes japoneses da zona sul do Rio, ou da Barra... Me escondi, inclusive daqueles que, apesar de não parecerem (afinal, é cult comer no japonês, e, talvez por isso, todo mundo que tem grana, como quase todo mundo aqui no banco tem, se não come, deveria), nem gostam de comida japonesa.

Concluo que surto na procura da justa-medida da definição da imagem que gostaria de passar. Me orgulho de ostentar um prato colorido, cheio de verduras, qualhado de legumes, arrebatado pela delicadeza natureba de um arroz integral; me envergonho de mostrar que como comida japonesa (muita até) inclusive nos lugares onde ela não é excelente... E, no fundo, no fundo, estou cagando para o que as pessoas pensam sobre o que como!

Afinal, sempre me pareceu preferível a atirar as sobras ao lixo, que toda a comida vire merda!

Aquecimento global... Tá...

Como já confessei, sou chegado a uma teoria da conspiração. E, talvez, seja por isso que me intriga tanto a questão do aquecimento global.

Na verdade, acabei de ter um insight. Toda a discussão em torno do aquecimento se dá para tentar desviar do campo moral a incompetência crônica do atual Sistema em produzir ou sustentar 'vantagens', melhorias e dignidade para a humanidade como um todo. Como o desenvolvimento é a única redenção possível, precisamos elevá-lo ao ponto de que avanços tecnológicos resolvam, com simplicidade desconcertante, todos os problemas em que nos metemos por perseguí-lo desmedidamente.

Uma outra coisa que me chocou neste assunto foi o desfecho do encontro em Copenhage... Lá se discutiram todos os desdobramentos nefastos que podem ter nossa conduta irresponsável com relação ao equilíbrio da atividade humana com os ciclos do planeta. E até acho que grandes catástrofes, como o Tsunami na costa da Ásia e o terremoto no Haiti, são espécies de castigo da mãe terra aos seus filhos mal educados. Mas, o que nos deixa perplexo é que a constatação de que o futuro do planeta estaria ameaçado se não mudarmos imediatamente de postura (e mesmo o conceito de riqueza, que baliza quanto, como e por quê produzimos) não produz nenhum efeito no sentido de instaurar uma cooperação entre todos para tentar manobrar o problema. Em suma, como o Molion, que está sendo entrevistado nos links abaixo, não acredito em aquecimento global, mas, se acreditasse, ficaria muito puto em assistir a elite do mundo se reunir para constatar que salvar o planeta fere interesses poderosos demais. Interesse de quem, caras pálidas? Mesmo me considerando bastante egoísta, tenho uma filha e, por ela, um amor que mal compreendo. E pretendo deixar ao menos os cacos do que me entregaram para que ela faça com eles o que bem entenda.

Seguem os links, que valem muito a pena.

http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultnot/2009/12/11/nao-existe-aquecimento-global-diz-representante-da-omm-na-america-do-sul.jhtm

http://mitos-climaticos.blogspot.com/2009/10/duas-entrevistas-com-o-prof-luiz-carlos.html

Na verdade, este post já está um pouco antigo... Acho até que já tenho uma idéia melhor sobre os porques do alarme em vota do aquecimento... E tem a ver com a manutenção do estado das coisas... Para que permaneça vagando sem rumo 'o colosso do sul', y sus hermanos... Mas cansei mesmo de falar disso...
 
Acho que estou ficando mais leve, apesar do calor...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Futebol literário

Passei algum tempo lendo somente literatura desportiva. Por conta da monografia eterna, e a suposta obrigação de ler exclusivamente para ela, deixei de ler por compulsão às coisas que me sequestram as idéias para inventar todo um universo de desculpas, e nunca recomeçar a ler os livros de estudo. Por fim, até as várias revistas que assino, parei de ler... E só agora, que estou voltando a ter vontade de escrever, voltei a ler coisas amenas (ou nem tanto) de qualidade.
Nunca fui muito de gostar de jornal e, na dificuldade de encontrar distração rápida para os caminhos sempre longos e abafados das minhas conduções diárias e os momentos de prostração no trabalho, virei um especialista da geralmente rasa, incompleta e excessivamente simplória cobertura dos esportes.
Meu argumento de 'defesa' - para um ataque imaginário, afinal, ninguém se importa que eu não me interesse pelas demais partes de um jornal - era que, no esporte, sim, temos talvez o único ponto de discussão válido na imprensa contemporânea. E isso apesar dos discursos prontos, da constância da regra e da repetição cíclica dos enfrentamentos, Afinal, as notícias escabrosas, as opiniões obscuras, coberturas deturpadas, o monopólio da notícia e os assuntos interesseiros, e raramente interessantes, ainda me deixam questionar a validade de saber tanto 'mais do mesmo' para, paradoxalmente, defender-se 'informado'. Tem muita gente que devora revistas periódicas sem desconfiar que a informação ali contida pode não ser o único lado da questão; e chegam mesmo a levantar a voz para quem se atreva a chamar toda a informação, que essa gente acessa com esmero, de lixo! Felizmente, não tenho vontade de convencer ninguém... E fico feliz que as pessoas sejam felizes com o mundo que escolhem para si, bom pseudo-antropólogo que, apesar da monografia interminável, acabei me forjando.

Sempre há o que garimpar na internet. Muito besteira, muita coisa boa e muito besteirol de primeiríssima qualidade! Eu, que fiquei vidrado mais nessa questão do 'comunicar-se', desde a época dos pacotes de mensagens do Bluewave, ainda na era da BBS, costumo me sentir um pouco defasado na questão da busca por conteúdo. E talvez seja por isso que, enquanto me mantive inerte no acompanhamento dos desportos, tenha sido fiel leitor do portal do Terra, que é muito ruim, além do Lance, esse impresso mesmo... Em suma, na esteira das minhas recentes descobertas cibernéticas, o abandono do portal do terra é um dos meus maiores triunfos.

Estive esses dias com meu amigo 'Elo Perdido'. Bruno Monstro, apesar de aceitar mal a alcunha, é um sujeito praticamente feito só de músculos, coração e impulsos. Nele, os instintos animais são violentíssimos. E eu, que sou um bom filho da puta, chego a me divertir observando ele tentar controlar, sem muito sucesso, uma multidão de fúrias, desejos, espontaneidades e outras coisas que, em geral, compartilho, mas que, comigo, ficam detidas em meus rigorosos filtros morais. Só não consigo me considerar a evolução dele, porque não concordo muito os rumos que a nossa sociedade acaba assumindo por ser muito mais parecida comigo do que com o monstro, ao menos nos aspectos já citados. Bruno Monstro é um selvagem, mas (com o perdão da expressão batida e dúbia) um 'bom selvagem'. Talvez até, o melhor deles.

Então, qual não foi a minha surpresa ao ver, dentre os seus insignificantes dotes informáticos (o cara tem uma impressora parada há meses porque 'não sabe' instalar!), que ele tinha acesso a uma coluna esportiva que, apesar de pertencer à trama maldita da Globo (só pesquisando agora, pra passar o link, que percebi; ademais, entre o jornalismo do Terra e da Globo, até prefiro o segundo: é mais didático e ainda mais charlatão), era muito melhor do que qualquer outra a que já tive acesso. E o sujeito é um flamenguista doente, que escreve como um debatedor de botequim virutose, sem perder o escracho. Talvez até com o exagero ao pendor e orgulho rubro negro, mas com uma providencial análise ao menos razoável do futebol, o que, convenhamos, é fundamental, mas extremamente escasso.
Afinal, já cansei de cantar o assunto ou acertar o real motivo da marcação de uma falta para os comentaristas da TV que, na boa e velha escola do Galvão, devem ir aos jogos só pra beber whisky misturado com cocaína e disparar absurdos. O Casão que o diga: trepidou e foi parar numa clínica de reabilitação... E olha que o cara é irmão do Sócrates, que desde a democracia ateniense, passando pela corintiana, até a de agora, manteve-se o maior doidão.

Em suma, no fundo, o que me irrita é que caras que são pagos para isso conseguem ter uma visão ainda mais estreita do que eu sobre o futebol! Por outro lado, dá também um orgulho bobo, de saber pouco, mas bem, qual é, enfim, a verdadeira motivação do jogo. Sou muito flamenguista, mas não sou fanático. E me gabo de poder conversar com torcedor de qualquer equipe sobre o futebol como arte, o que ele é, da pelada de domingo até a decisão da copa. Bom jogo é bom jogo, craque é craque e a bola é uma só. Não dá pra tergiversar só porque se ama demais...

Pra não perder o fio (maravilha?), taí o blog do cara que, a propósito, tem o nome do Galinho:

http://colunas.globoesporte.com/arthurmuhlenberg/

Mas eu dei essa volta enorme para dizer que venho acompanhando, postumamente, o desenvolvimento dos caras do Cardosonline. Tudo começou com o relato HILÁRIO que li do André Cznoranhoy (é impronunciável... Let's Google it...)... Czarnobai (Ctrl+C, Ctrl+V! O Bruno Monstro não sabe, mas eu sei!)!!! Enfim, li na piaui...

O relato do André Barishnikov me deixou completamente vidrado no tipo de humor que ele fazia, mas ainda demorei um bom tempo para lembrar de procurar por ele na internet. Até que um dia, numa dessas tardes intediantes como secretário de advogados que sou, lembrei de pesquisar sobre o assunto, e acabei caindo nos arquivos do e-zine Cardosonline, extino em 2001... O interessante de ver é que muitos dos caras que brincavam de escrever naquela época (e os primeiros são até bem toscos, embora, em geral, especialmente os da galera que acabou se firmando na escrita, já bastante sagazes), hoje ganham a vida com isso.
Mais interessante ainda foi ler, por puro acaso, o texto em que o Daniel Galera discorria sobre a sua momentânea falta de dedicação à escrita, apesar de considerá-la um de seus mais promissores talentos (dentre tocar, nadar, conversar com os camaradas e outras coisas que ainda mais raramente dão sustento pra alguém).
E eu já tinha lido coisas dele. Num blog, ao qual cheguei por um caminho tortuoso. Vou resumir porque, a esta altura, já não tem ninguém mais lendo, se é que alguém se atreveu a começar... Ademais, nem eu devo ter paciência de reler:

Assim: a Mari(ana Abbade, vai que ela estoura!), uma amiga de longuíssima data, um dia mandou um e-mail singelo dizendo que andava escrevendo umas coisas, e queria que os amigos lessem... Bem, não estou resumindo. Depois eu falo sobre o blog da Mari.
De novo, no blog da Mari, tinha um link para o blog que o Lourenço Mutarelli manteve enquanto ficou por um mês em Nova York, bancado por uma editora, com intuito de inspirar-se para um romance que versasse sobre uma estória de amor passada na cidade. E ele não era o único! A editora bancou a viagem de dezenas de escritores para diversos lugares do globo com o mesmo objetivo. Um deles, era o Galera. Como ele foi para a Argentina, para onde pretendo ir em março, li o dele também... Até achei legal... Menos do que o que li dele no cardosonline e, na época, menos ainda do que a intriga de um sujeitinho afetado que escreveu o seu romance à Mario de Andrade e entregou o primeiro dentre todos os manuscritos, muito antes do prazo definido, mas a editora vetou o livro. Fiquei sabendo que outros livros foram vetados, e até sou chegado a uma teoria da conspiração. Mas até pelo que esse tal rapaz deixava transparecer na sua escrita, acho que ele não escreveu nenhum Macunaíma. Acho até que tenha passado bem longe disso.

O que acontece é que tô escrutinando essa galera do cardosonline e tô adorando a idéia de voltar a escrever. Pensando até em propor para a galera literata que conheço de reavivar o velho grupo de discussões tresloucadas onde, por muito tempo, divagamos livremente sobre tudo. Porque, como o Galera, e mesmo boa parte da torcida do flamengo, negligencio o cultivo de minhas melhores habilidades por estar absorto nesse mundo absurdo onde, apesar do calor insólito, selvagem é quem anda nú. E isso não pode estar direito.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Calores...

Tenho a impressão de que o Largo da Carioca é um dos lugares mais quentes do planeta. Não sei se é por conta do pouco que conheço do mundo, ou da insólita obrigatoriedade de vestir - num país tão tropical - calças para trabalhar, mas o calor que a enorme praça de concreto emana parece chegar aos ossos. E não adianta andar devagar, abanar-se com o jornal ou mesmo o minúsculo folheto de divulgação de empréstimos sem consulta a SPC e SERASA, ou levantar a camisa expondo a barriga geralmente avolumada. O sol inclemente de um lado e o concreto escaldante por baixo deixam poucos espaços para refrescos.


Não chega a ser um consolo, mas escutei de dois seguranças, metidos dentro de ternos muito escuros, que até aquela altura (estávamos a poucos passos do possante ar condicionado do prédio em que trabalhamos) ainda não haviam começado a suar. De um deles ouvi, já com um sorriso escapando, que começava a transpirar pelo bigode e que, dali pra frente, restava empapar-se... Talvez os mesmos ossos, do ofício.

Voltando ao largo e seu relógio de 1909, seu chafariz parado - provavelmente para que algum outro, ainda mais vistoso, jorre sem parar em Europa e cercanias -, sua carência de árvores, e os diversos artistas de rua que de de lá tiram o pão, aprendo mais um pouco do que é o Brasil. Nas saias curtas de lindas meninas, nas saias curtas de moças horrorosas e na elegância importada dos advogados e seguranças de terno, cada gota de suor nos reafirma.

Ainda somos índios que, com variadas intensidades, anseiam um banho, se possível, constante. Já em casa, depois das horas de engarrafamento, fumaça e fúria do deslocamento diário, será uma das primeiras coisas que buscaremos. Para que possamos viver com algum frescor o naco minúsculo do dia que efetivamente nos pertence.

Um dia teremos a singeleza de entender que no suposto 'atraso' de nossos ancestrais havia uma enorme sabedoria. E teremos a dignidade de voltar a andar nús!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

De volta...

Voltei hoje para o mundo da burocracia no qual assim que pude depois de gerar a minha filha. Volto de Porto Alegre onde, dentre outras cidades vizinhas, foi realizado o Fórum Social Mundial de 2010. Acampei próximo a Novo Hamburgo, cidade erguida sobre os dividendos da produção de calçados, a qual não conheci. Em resumo, a constatação do Fórum descentralizado da capital é a falta de integração entre esta e suas áreas vizinhas, especialmente sua zona rural. Eu, isolado, aceitei a condição.

Continuo respondendo sem muita convicção sobre a qualidade do primeiro período de férias desde que entrei aqui, no BNDES. Na verdade, não sei bem o que pensar do que vi e vivi por lá.

Como já disse, sei que algo grande se moveu, ainda que milimetricamente, dentro de mim. Me percebi ilhado em minhas convicções e, embora esteja cansado de atribuir a esta dificuldade de compartilhar metas a responsabilidade sobre a lentidão de meus feitos e realizações, ainda não pude precisar o escopo da transformação que constatar isso, ao que parece, engendra.

O que acontece é que, mesmo os mais bem intencionados, me parecem extremamente equivocados em sua abordagem da vida. Dentre os esotéricos, abraços coletivos, paixões súbitas pela permacultura e o traço paradoxal de uma fronteira foram suficientemente eloquentes para me demonstrar que mesmo o sistema de questionamento do Sistema começa a dar água. Foi assistindo às fogueiras de vaidades, à intolerância mútua dentre as particularidades das correntes e a mercantilização da coisa toda, que me dei conta que essa estória de iluminação espiritual está tão distante dos meus amigos cantadores de mantras quanto de mim.

De fato, a alimentação mais saudável e a abordagem (às vezes cegamente) positiva sobre as coisas parecem dar uma energia de pular, dar gritos de aprovação e mesmo brincar na lama que eu, do fundo do quase maço de cigarro por dia, ou do recomeço recente da jornada de saturno, já não tenho. Ademais, talvez eu jamais tenha tido energia para isso. Minha expansividade é peculiar. Acho que nasci velho e, só agora, começo a me sentir a vontade na pele que minha alma anima.

O que parece importar, por ora, é que sinto portar algum tipo de energia especial, que precisa ser compartilhada, apesar de todas as dificuldades de um sujeito que até em e-mails lembra preferir acenos, por não ser um cara de abraços fáceis. Em contrapartida, o mito do gênio perde força, às pressas. Quero e não quero ser um. No fundo, quero ser, seja lá o que for, com convicção... Algo que ainda não consigo.

Afinal, foi essa a minha principal conclusão sobre o fórum. Que a minha história só pode ser resolvida com uma receita muito específica. Personalizada. A ironia é que quem escreve a receita, separa os ingredientes e prepara a poção é a mesma pessoa que precisa bebê-la. E a moenda, a decantação, uma eventual fermentação, a cocção, cada parte do processo, é mais lenta do que se imagina.