quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Calores...

Tenho a impressão de que o Largo da Carioca é um dos lugares mais quentes do planeta. Não sei se é por conta do pouco que conheço do mundo, ou da insólita obrigatoriedade de vestir - num país tão tropical - calças para trabalhar, mas o calor que a enorme praça de concreto emana parece chegar aos ossos. E não adianta andar devagar, abanar-se com o jornal ou mesmo o minúsculo folheto de divulgação de empréstimos sem consulta a SPC e SERASA, ou levantar a camisa expondo a barriga geralmente avolumada. O sol inclemente de um lado e o concreto escaldante por baixo deixam poucos espaços para refrescos.


Não chega a ser um consolo, mas escutei de dois seguranças, metidos dentro de ternos muito escuros, que até aquela altura (estávamos a poucos passos do possante ar condicionado do prédio em que trabalhamos) ainda não haviam começado a suar. De um deles ouvi, já com um sorriso escapando, que começava a transpirar pelo bigode e que, dali pra frente, restava empapar-se... Talvez os mesmos ossos, do ofício.

Voltando ao largo e seu relógio de 1909, seu chafariz parado - provavelmente para que algum outro, ainda mais vistoso, jorre sem parar em Europa e cercanias -, sua carência de árvores, e os diversos artistas de rua que de de lá tiram o pão, aprendo mais um pouco do que é o Brasil. Nas saias curtas de lindas meninas, nas saias curtas de moças horrorosas e na elegância importada dos advogados e seguranças de terno, cada gota de suor nos reafirma.

Ainda somos índios que, com variadas intensidades, anseiam um banho, se possível, constante. Já em casa, depois das horas de engarrafamento, fumaça e fúria do deslocamento diário, será uma das primeiras coisas que buscaremos. Para que possamos viver com algum frescor o naco minúsculo do dia que efetivamente nos pertence.

Um dia teremos a singeleza de entender que no suposto 'atraso' de nossos ancestrais havia uma enorme sabedoria. E teremos a dignidade de voltar a andar nús!

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