terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Futebol literário

Passei algum tempo lendo somente literatura desportiva. Por conta da monografia eterna, e a suposta obrigação de ler exclusivamente para ela, deixei de ler por compulsão às coisas que me sequestram as idéias para inventar todo um universo de desculpas, e nunca recomeçar a ler os livros de estudo. Por fim, até as várias revistas que assino, parei de ler... E só agora, que estou voltando a ter vontade de escrever, voltei a ler coisas amenas (ou nem tanto) de qualidade.
Nunca fui muito de gostar de jornal e, na dificuldade de encontrar distração rápida para os caminhos sempre longos e abafados das minhas conduções diárias e os momentos de prostração no trabalho, virei um especialista da geralmente rasa, incompleta e excessivamente simplória cobertura dos esportes.
Meu argumento de 'defesa' - para um ataque imaginário, afinal, ninguém se importa que eu não me interesse pelas demais partes de um jornal - era que, no esporte, sim, temos talvez o único ponto de discussão válido na imprensa contemporânea. E isso apesar dos discursos prontos, da constância da regra e da repetição cíclica dos enfrentamentos, Afinal, as notícias escabrosas, as opiniões obscuras, coberturas deturpadas, o monopólio da notícia e os assuntos interesseiros, e raramente interessantes, ainda me deixam questionar a validade de saber tanto 'mais do mesmo' para, paradoxalmente, defender-se 'informado'. Tem muita gente que devora revistas periódicas sem desconfiar que a informação ali contida pode não ser o único lado da questão; e chegam mesmo a levantar a voz para quem se atreva a chamar toda a informação, que essa gente acessa com esmero, de lixo! Felizmente, não tenho vontade de convencer ninguém... E fico feliz que as pessoas sejam felizes com o mundo que escolhem para si, bom pseudo-antropólogo que, apesar da monografia interminável, acabei me forjando.

Sempre há o que garimpar na internet. Muito besteira, muita coisa boa e muito besteirol de primeiríssima qualidade! Eu, que fiquei vidrado mais nessa questão do 'comunicar-se', desde a época dos pacotes de mensagens do Bluewave, ainda na era da BBS, costumo me sentir um pouco defasado na questão da busca por conteúdo. E talvez seja por isso que, enquanto me mantive inerte no acompanhamento dos desportos, tenha sido fiel leitor do portal do Terra, que é muito ruim, além do Lance, esse impresso mesmo... Em suma, na esteira das minhas recentes descobertas cibernéticas, o abandono do portal do terra é um dos meus maiores triunfos.

Estive esses dias com meu amigo 'Elo Perdido'. Bruno Monstro, apesar de aceitar mal a alcunha, é um sujeito praticamente feito só de músculos, coração e impulsos. Nele, os instintos animais são violentíssimos. E eu, que sou um bom filho da puta, chego a me divertir observando ele tentar controlar, sem muito sucesso, uma multidão de fúrias, desejos, espontaneidades e outras coisas que, em geral, compartilho, mas que, comigo, ficam detidas em meus rigorosos filtros morais. Só não consigo me considerar a evolução dele, porque não concordo muito os rumos que a nossa sociedade acaba assumindo por ser muito mais parecida comigo do que com o monstro, ao menos nos aspectos já citados. Bruno Monstro é um selvagem, mas (com o perdão da expressão batida e dúbia) um 'bom selvagem'. Talvez até, o melhor deles.

Então, qual não foi a minha surpresa ao ver, dentre os seus insignificantes dotes informáticos (o cara tem uma impressora parada há meses porque 'não sabe' instalar!), que ele tinha acesso a uma coluna esportiva que, apesar de pertencer à trama maldita da Globo (só pesquisando agora, pra passar o link, que percebi; ademais, entre o jornalismo do Terra e da Globo, até prefiro o segundo: é mais didático e ainda mais charlatão), era muito melhor do que qualquer outra a que já tive acesso. E o sujeito é um flamenguista doente, que escreve como um debatedor de botequim virutose, sem perder o escracho. Talvez até com o exagero ao pendor e orgulho rubro negro, mas com uma providencial análise ao menos razoável do futebol, o que, convenhamos, é fundamental, mas extremamente escasso.
Afinal, já cansei de cantar o assunto ou acertar o real motivo da marcação de uma falta para os comentaristas da TV que, na boa e velha escola do Galvão, devem ir aos jogos só pra beber whisky misturado com cocaína e disparar absurdos. O Casão que o diga: trepidou e foi parar numa clínica de reabilitação... E olha que o cara é irmão do Sócrates, que desde a democracia ateniense, passando pela corintiana, até a de agora, manteve-se o maior doidão.

Em suma, no fundo, o que me irrita é que caras que são pagos para isso conseguem ter uma visão ainda mais estreita do que eu sobre o futebol! Por outro lado, dá também um orgulho bobo, de saber pouco, mas bem, qual é, enfim, a verdadeira motivação do jogo. Sou muito flamenguista, mas não sou fanático. E me gabo de poder conversar com torcedor de qualquer equipe sobre o futebol como arte, o que ele é, da pelada de domingo até a decisão da copa. Bom jogo é bom jogo, craque é craque e a bola é uma só. Não dá pra tergiversar só porque se ama demais...

Pra não perder o fio (maravilha?), taí o blog do cara que, a propósito, tem o nome do Galinho:

http://colunas.globoesporte.com/arthurmuhlenberg/

Mas eu dei essa volta enorme para dizer que venho acompanhando, postumamente, o desenvolvimento dos caras do Cardosonline. Tudo começou com o relato HILÁRIO que li do André Cznoranhoy (é impronunciável... Let's Google it...)... Czarnobai (Ctrl+C, Ctrl+V! O Bruno Monstro não sabe, mas eu sei!)!!! Enfim, li na piaui...

O relato do André Barishnikov me deixou completamente vidrado no tipo de humor que ele fazia, mas ainda demorei um bom tempo para lembrar de procurar por ele na internet. Até que um dia, numa dessas tardes intediantes como secretário de advogados que sou, lembrei de pesquisar sobre o assunto, e acabei caindo nos arquivos do e-zine Cardosonline, extino em 2001... O interessante de ver é que muitos dos caras que brincavam de escrever naquela época (e os primeiros são até bem toscos, embora, em geral, especialmente os da galera que acabou se firmando na escrita, já bastante sagazes), hoje ganham a vida com isso.
Mais interessante ainda foi ler, por puro acaso, o texto em que o Daniel Galera discorria sobre a sua momentânea falta de dedicação à escrita, apesar de considerá-la um de seus mais promissores talentos (dentre tocar, nadar, conversar com os camaradas e outras coisas que ainda mais raramente dão sustento pra alguém).
E eu já tinha lido coisas dele. Num blog, ao qual cheguei por um caminho tortuoso. Vou resumir porque, a esta altura, já não tem ninguém mais lendo, se é que alguém se atreveu a começar... Ademais, nem eu devo ter paciência de reler:

Assim: a Mari(ana Abbade, vai que ela estoura!), uma amiga de longuíssima data, um dia mandou um e-mail singelo dizendo que andava escrevendo umas coisas, e queria que os amigos lessem... Bem, não estou resumindo. Depois eu falo sobre o blog da Mari.
De novo, no blog da Mari, tinha um link para o blog que o Lourenço Mutarelli manteve enquanto ficou por um mês em Nova York, bancado por uma editora, com intuito de inspirar-se para um romance que versasse sobre uma estória de amor passada na cidade. E ele não era o único! A editora bancou a viagem de dezenas de escritores para diversos lugares do globo com o mesmo objetivo. Um deles, era o Galera. Como ele foi para a Argentina, para onde pretendo ir em março, li o dele também... Até achei legal... Menos do que o que li dele no cardosonline e, na época, menos ainda do que a intriga de um sujeitinho afetado que escreveu o seu romance à Mario de Andrade e entregou o primeiro dentre todos os manuscritos, muito antes do prazo definido, mas a editora vetou o livro. Fiquei sabendo que outros livros foram vetados, e até sou chegado a uma teoria da conspiração. Mas até pelo que esse tal rapaz deixava transparecer na sua escrita, acho que ele não escreveu nenhum Macunaíma. Acho até que tenha passado bem longe disso.

O que acontece é que tô escrutinando essa galera do cardosonline e tô adorando a idéia de voltar a escrever. Pensando até em propor para a galera literata que conheço de reavivar o velho grupo de discussões tresloucadas onde, por muito tempo, divagamos livremente sobre tudo. Porque, como o Galera, e mesmo boa parte da torcida do flamengo, negligencio o cultivo de minhas melhores habilidades por estar absorto nesse mundo absurdo onde, apesar do calor insólito, selvagem é quem anda nú. E isso não pode estar direito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário