sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Salário pouco

Eu com o meu salário pouco, já com filha pra criar, venho das melhores famílias.
Tem gente que nem família tem.
E tem bravo que tem família que precisa mais que ele, e tem seu dinheiro-nada, menos que meu salário pouco, mas dá.

O mundo é assim: absurdo.

Tem um monte de sujeito de terno. Ternos novos, e ternos velhos.
Só não tem terno eterno – porque ainda não inventaram.
Mas inventarão, não só o terno, mas o homem eterno – aquele que transita as gerações.
Ele não fica velho, é vida pura e inteira.
Sem termo, sob os ternos eternos que, certamente, envergarão, vigorariam a fio.
Seriam seres de luz.
E grana, claro.

Porque o resto dos homens, ainda sem ternos, sequer os velhos,
estes seriam do chão, e dele se sujariam com a reviravolta dos ventos do tempo.
Envelheceriam junto com o terno que teriam,
se terno não fosse – há muito e ainda naqueles dias – distinção.
E eles continuariam vulgares, comuns. Seriam da tradição.
Suporiam que o não passar do tempo pode ser bom, ou não.

Muitos passariam a vida tentando comprar seus ternos, outros sua vida eterna.

Mesmo que todos passem na vida comendo pão. Alguns com baguetes e brioches, outros com migalhas de franceses. Outros ainda, só com fruta-pão. E rapadura, que é doce, mas não é mole...

2 comentários:

  1. Delicioso, dos de gosto novo a cada prova. Logo que vi, percebi que o conhecia. Mas esse chama, forte. E eu ia, ia, ia... e fui! Muito além do óbvio "não".

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  2. Não funcionou, reescrevi. Agora não me deixa apagar. Fica aí, o mesmo dito, de jeitos outros. Beijo.

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