sábado, 24 de julho de 2010

Lar doce

Estava no banheiro, com a porta entreaberta como de costume. Olhei pro lado do espelho e pensei: porra, tô na minha casa! No reflexo, acima da minha testa, via a janela para pedra que há ao lado do chuveiro, um mistério insondável de minha nova residência, e especulava sobre a consistência da parede contígua, pensando em instalar ali, num futuro impreciso, um box blindex classic! Depois dos armários, juro que arrumo um dinheiro para reformar o banheiro, colocar azulejos coloridos, caso o restante da casa permaneça branco, o que é improvável, já que o branco dá tanto trabalho. E sujeira tem me incomodado ao ponto de quase levantar e sair limpando tudo. Já acordo encarando um pequeno bolo de pêlos de todas as naturezas e consistências. O auto-questionamento anatômico é constante: de onde proveria cada exemplar? Tenho comigo que, com o tempo, poderei precisar a origem de cada fio por sua cor, suas voltas, seus comprimentos... No fundo isso pode ser interessante, e me agarro à esta possibilidade.

Mas o ralo do chuveiro não é nada interessante. Ele permanece vedado, guardando lá dentro um cheiro hediondo. Não chego a temer que exploda, mas me incomodo sinceramente de ter um escoamento tão precário para meus banhos e ar tão irrespirável para o meu banheiro sem janelas outras que aquela. No fundo, o ralo é um buraco na pedra sobre a qual meu apartamento está estabelecido. Sim, o que a aparece na insólita janela para o nada de meu banheiro, nada mais é do que a ponta de um enorme iceberg de pedra ou, buscando maior precisão lingüística e trocadilheira, um rockberg!

Um dia contrato alguém munido de marreta e ponteira – e cheio de marra – para instalar ali um sifão decente, e manter distante o olor maldito que espalhamos pelo mundo, dada nossa forma particular de produzir energia. Pra piorar, acabei lendo que ralos drenam, além da água, energia. Nele se esvai parte do que produzimos com garfos, do que processamos descansando, do que arrancamos do mundo nos damasiadamente raros arroubos de felicidade.

E, como do 'Chi' a gente nunca sabe quando vai precisar, tenho preferido acumulá-lo, para qualquer eventualidade. Para enfrentar com valentia o enfadonho ciclo da roupa, os pêlos implorando para serem varridos, e a pia, que clama por uma ducha fria... E, como se já não bastasse, tudo poderia ser mais simples, mas a roupa amassa enquanto lava, venta sempre que se varre e a pia, não se sabe como, JAMAIS consegue ficar sozinha, vazia.

Ter uma casa é uma aventura indescritível. Sei que fracasso terrivelmente ao contá-lo, atento ao fato de que, quem gosta de reclamar, adora reclamar do que gosta, reclamo dela (a casa), dos amigos, e até da lindeza da minha filha. E sou, como quase todo mundo, bastante feliz assim. Como sou.

3 comentários:

  1. Prezado Amigo

    Quanto ao cheiro do banheiro e ralo, voce não precisa de janela entre no site: www.msite.com.br/arclean e veja que além de saúde elimina 100% do mau cheiro

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  2. E propaganda no blog, pode!?

    Mari, uma consultoria, por favor!

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  3. Essa foi inusitada!

    banheiro, Janela, pá quê???

    Mas aí, esse cara é ninja!

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