Dia desses, atropelei uma senhora. Estava a pé, por sorte. E a senhora era sólida, pra minha tranquilidade.
Olhava para o outro lado da rua. Vinha no pique, trotando. Correndo por trás do ônibus, dentro da rua, pra evitar o ritmo de romaria que acomete a imensa maioria das pessoas.
Quando vi, era tarde. Acho que ainda tentei segurá-la. Tenho quase certeza que não consegui, ainda que talvez tenha amortecido a queda. As pessoas, já escandalizadas, murmurando mandingas contra minha conduta absurda: derrubar a senhora com a brutalidade do peito.
Não me fiz de cretino. Clamei, cedo, por Deus. Abandonei por um instante a pressa para ajudar a mulher, que já levantava. Levantei-a num susto. E orei por meu destino em voz alta, buscando perdão. Olhava-a nos olhos enquanto passava a mão por seu braço molhado embora aparentemente são. Pedi desculpas de todas as formas que conheço e, quiçá, o povo que sequer ajuntava, inclusive, já simpatizasse comigo e comentasse, cada um para si, que esta vida afobada que escolhemos tem seus percalços.
Engoli a multidão de desculpas para ouvir o que me dizia a senhora: "estamos, os dois, com pressa, meu filho. Só isso". Eu, que já tremia, quase chorei... E segui em direção à barca, ainda a tempo. Corri mais, claro. Mais atento, certamente.
E pensava no restinho de caminho: tenho que mudar... Mas, mudar o quê? Não sabia! Afinal estamos, praticamente todos, atrasados para algo. A vida urge, ruge a urbe. E a gente, simplesmente, aceita. Se deixa levar.
Se preciso, até rezo pra que a tal senhora esteja bem. Mas já passa de meia-noite... Tenho que trabalhar amanhã e talvez precise ficar para escrever. Amanhã devo sair correndo, mais uma vez... Que as senhoras tomem outro rumo.
Tenho pressa de conhecimento. Clamo por uma entrada usb no cérebro, quiçá firewire! Estou sem dó pras velhinhas. Meu cérebro vai passar amoralmente. Vai quebrar tudo.
ResponderExcluirPablo Cabana