terça-feira, 13 de abril de 2010

Da sorte das moscas e dos médiuns

Eu penso muito. E, talvez por isso, passo boa parte do tempo em que caminho pelas ruas olhando pra baixo. Mas não me detenho nos detalhes dos calçamentos, nem no provável cardápio dos cachorros que se aliviam pelas ruas, nem na diversidade de detritos que boa parte das pessoas consegue, simplesmente, atirar ao piso. Na verdade, enquanto penso, tenho os olhos baixos, mas desfocados...

Assim, nos lapsos entre os pensamentos, acabo escutando cada pérola. E rio sozinho, às vezes só por dentro, de tanta coisa que o povo fala.

Me diverti muito (embora quase ninguém para quem contei tenha achado qualquer graça) quando ouvi o sujeito que vendia raquetes eletrificadas dizer:

- Mata mosca, mata mosquito... E quando morreu, já sabe: tá morto!

Achei hilário! (sério!)

Mas hoje foi um pouco diferente... Depois de três semanas longe da cidade, ouvi um novo chamado, numa voz aguda:

- Chico Xavier, Chico Xavier... O filme!

Pensei um pouco nele, no Chico, o Xavier... Da mãozinha no rosto para psicografar, e toda a estória com a peruca... Então, ressoou, grave como um trovão, uma voz pra lá do além:

- CHICO XAVIEEEEEER...

Tive medo... E nem virei para conferir...

Um comentário:

  1. Procurando apartamento para alugar. Muitos prédios e poucos vagos. Em um, no Largo do Machado e do tamanho adequado, o porteiro - cearense - tem as chaves:

    "_Morava aí um velhinho, mas agora é o genro que pôs pra alugar. Veio aí semana passada uma mulher que também queria. Ele quase fez negócio, mas ela tem um filho, deve ter uns oito anos o garoto, aí sabe como é criança... Olha que por ele preferia assim, uma moça.

    E ele faz uma pausa, olhando pro teto.

    _A menina tem medo de gente morta, não, né?

    E eu respondo.

    _ Por quê, ele morreu aí?

    _É. Foi, é...

    _Ele era bonzinho?

    _Ah, se era. Conversava aqui com a gente, trazia até bolo da filha no domingo.

    _Então eu não tenho medo, não. Tudo bem."


    E é aqui que eu moro.


    O problema não é chamar o Chico, mas quem o Chico chamava... Que nada! Não é coisa de ter medo. Vivo ou morto, dá igual.

    Mas cuidado com esse pé grande pra fora da cama...

    Beijo.

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