Se acaba eu não sei, mas conheço uma infinidade de técnicas para soterrar um sentimento, que usamos, em geral por razões táticas, como defesa.
Quando alguém caro se transforma numa presença intolerável, ou simplesmente desaparece, colocamos seus vestígios numa caixa e atiramos sobre ela toda sorte de desconforto, que produzimos em profusão enquanto estamos tristes. Mágoas, inseguranças e frustrações aliadas em forma de mau ruído, que corrói por dentro a cabeça, o estômago, o coração...
Preferimos ver o lado negativo de tudo aquilo, nos arrependemos de estar inteiros nos momentos lindos, por estarmos muito abertos, por estarmos entreges a alguém que vai embora, ou se tranfosma numa presença intolerável.
O amor é uma coisa mágica, que acontece muito de vez em quando. De fato, a busca por ele, movimenta o mundo. Instintos nos empurram, um para cima dos outros. Atendemos o impulso de permanecer às turras. E muito pelas expectativas, pelo que espreitamos de amores outos e supomos querer pra nós. Tudo muito complicado pro ato mais simples para o qual fomos programados. Vontade absoluta, instantânea. Um foco obsessivo, que a gente até tenta transpor, sem muito sucesso, para outras áreas de atuação. Oferecer o êxtase dos sentidos, sempre! E ter muita gana de consumí-lo.
Tendemos a achar que o outro tem a chave dessa nossa caixa de pandora. E entregamos as chaves de acesso ao sumo de nossas delícias, deixamos que decida o que fazer com elas. Idealizamos interpretações mediúnicas de nossos desejos; que as portas se abram no exato instante em que passamos, ou nos precedam por instantes, definindo nosso caminho. E que esse processo acelere, quiçá, a passagem pelas portas do imenso labirinto que nos cerca a que estamos condenados.
Em geral, chafurdamos na burocracia afetiva, emitimos e pagamos boletos com total presteza, iludidos de estar fazendo o melhor negócio! Mas jazimos, feito baratas, sobre o marasmo da espera. Que a pessoa chegue, que não vá embora, que te preencha as brechas, te complete, te ature, te queira, te beije, te cheire, te cuide, te abrace, te escute, te sinta; que se sinta completa contigo, que não tenha dúvidas, desejos, amantes, segredos, passado... Sorvemos - ávidos - o alento que compensa o ritmo em que as coisas fluem. Queremos alguém que nos faça perfeitos!
No fundo, contudo, você se completa só. E, aí sim, vai compartilhar o quanto pode. Com a coragem que tiver, com os medos. A gente insiste em complicar as coisas. Afinidades são sutis, mas poderiam ser melhor expressada, se quiséssemos.
Encontrar alguém especial é uma coisa rara. E eu conheço muito pouca gente que não queira.
Ademais, uma marca pode ser eterna, mesmo que um relacionamento não seja.
Ojalá, sê boa, a lembrança!
Sem dúvida, alguma coisa o foi.
enterramos nosso passado e juramos nunca mais visitá-lo. olhamos pra trás e sentimos que nada aconteceu, pois nos resta sobretudo o vazio. fizemos planos que hoje serão postos em prática com outra pessoa. ouvimos carinhos que serão repetidos a outras pessoas. dissemos coisas que tvz tb repetiremos a um novo amor.
ResponderExcluiro amor foi isso? essa escada que nos levou a lugar nenhum? um carro desgovernado cujo caminho procuramos guiar em vão? essa amizade forçada que não persiste ao primeiro momento em que vemos que nosso amor tem outro dono?
às vezes é melhor achar que sim...
adeus a tudo que tanto estimei. adeus àquela cidade que transpira recordações por cada bueiro, cada cinema, cada rua. adeus aos animais de estimação que por tantas vezes alimentamos, como se fossem nossos. adeus aos amigos que se faziam nossoas, mas sabíamos que o ser amado é que era nosso elo. adeus aos aconchegos, à itacoatiara de fim de tarde, ao simples fazer nada junto, que era sempre tão bom.
mas também adeus àquela pessoa vazia que o outro deixou de amar, que se tornou desinteressante, uma verdadeira megera. adeus às asneiras ditas pelo outro, ao seu mau hálito matinal, a suas reclamações por assuntos corriqueiros, a seu mau humor.
é a eterna chance de recomeçar, por mais difícil que isso pareça. num novo lugar, com novas pessoas. e , por mais que finjamos detestar tudo aquilo que passou e tudo pelo que passamos, o passado vem sempre bater a nossa porta com doces memórias do que nunca mais retornará.
a gente muda, mas nem sempre é pro jeito que o outro quer. eu, que queria tanto me alinhar às expectativas do outro, hoje sigo sem chão. de tanto me esmerar e me apoiar no outro, hoje resta nada. apenas a ausência.
cuidado pra não cortar os pulsos!
ResponderExcluirEu pensei a mesma coisa do anônimo acima de mim: "antes que alguém dê um tiro na cabeça, que tal...".
ResponderExcluireu não. achei um tanto quanto cruéis os dois anônimos acima. e vou ser, mesmo, clichê no que quero dizer.
ResponderExcluirfalo pra quem escreveu o texto: tão real quanto esta sensação de ficar sem chão, é o fato de que isso passa, e logo as memórias do passado deixam de doer e vão ser uma parte boa de você...
aceite o que foi, porque mesmo que seus movimentos lhe pareçam tortos, foram sinceros com seus sentimentos.
cuide-se, redescubra o que é seu!
Cara Manoela e demais colegas anônimos (os outros dois, pq sou um deles), concordo com tudo escrito por Marcos, concordo com o anônimo número 1 e o número 2 tb. É tudo muito lindo enquanto é vivido, muito dolorido quando partido, pq somos e seremos aquilo que o presente e o passado permitem que façamos de nós mesmos.
ResponderExcluirAs lembranças ficam e podem machucar, tentamos entender mil interrogações que nos legam as relações afetivas, e os silêncios mortais daqueles antes tão comunicativos. Pros outros todas as palavras, pros abandonados nenhuma. (E eu que já fui alvo de tantas declarações?? Pra onde é que foram?).
Ficar sofrendo não é solução, revivendo o amargor do que foi e não foi, e aí vai a dica pro anônimo número 1: também adorava itacoatiara ao pôr do sol com fernando, itacoatiara às madrugadas com lourenço e ao início da noite com carlos henrique e por aí segue... muito especiais, mas muito dolorosos quando acabou. É uma coisa incrível como todos os sentidos nos levam de volta a esses seres tão queridos, que no momento do luto, cortam e machucam profundamente. Deixe-se sofrer, mas sem afundar. Foi isso que eu e o #2 quisemos dizer. Tão humanos quanto vc somos nós, tb passamos por isso.
No entanto, no final das contas, é ainda melhor ser feliz consigo mesmo, com o que é seu e só seu, seus valores e seus planos futuros, suas idéias, sua forma de ver o mundo. São todos muito particulares e só mesmo em casos muito raros, acharemos alguém com quem partilhar isso tudo. Pq se eles não foram apreciados por quem te deixou, só resta a vc mesmo cuidar para sejam parte de quem vc é, ainda que afetados, como inevitavelmente serão, por tudo aquilo que nos envolve.
Anônimo número 1, só há uma coisa que justifica um relacionamento de verdade, e isso é: as duas partes quererem estar juntas. Se não for isso na base da relação, tenha certeza de que não será mais nada além de frustração, ou pra um ou pra outro.
Pra encerrar, existe um livro de Harald Weinrich chamado "Lete: Arte e crítica do esquecimento", excelente, especialmente para quem como eu sofre de uma memória detalhista e involuntária a ponto de me derrotar, e pra compensar - ou melhor entender -, tb trabalho com memória coletiva.
Bem, o autor tratando lá da relação indissociável entre esquecer e lembrar tem um trecho dedicado ao amor esquecido, com base em conselhos de Ovídio, vamos então ouvir os antigos, num verdadeiro revival da historia magistra vitae e seguir seus conselhos. Diz ele que vc deve seguir os mesmos conselhos de Marcos: fazer com que tudo que te lembra ao ser amado se torne terrível, jogar no fogo cartas e retratos, evitar os lugares por onde vcs andavam, os lugares que ele/ela gostavam de estar (até pq vc pode, assim, evitar a catástrofe de encontrá-lo/la lá, meu deus, e pior do que isso: com outra pessoa!!!!!!). Outra recomendação: viaje, viaje para bem longe, mantenha novos círculos de sociabilidade, evite o ócio: trabalhe, estude, dedique-se a sua profissão, aos negócios, ao serviço social... Esse processo pode ser lento, mas é melhor, pois quem esquece lentamente, esquece de modo duradouro. E agora citando:
"Portanto, finalmente, para pôr fim a qualquer vacilação, é preciso invocar o extremo e mais eficaz remedium amoris, bastante infalível. E é: um novo amor, um novo ardor (novus amor, novae flammae). Com isso rapidamente o amante chegará à encruzilhada e deverá decidir-se: agora vale o amor velho ou o novo? Se o novo amor sair vitorioso, todos os problemas estarão resolvidos, pois 'qualquer amor é vencido por um novo amor' (sucessore novo vincitur omnis amor)".
A todos os anônimos apaixonados, porém abandonados: prepare-se para a próxima experiência, ela pode superar tudo aquilo que parecia tão maravilhoso com a antiga companhia. Acho preferível e mais divertido que vcs riam de seus desastres sentimentais do que elevar os níveis das águas com lágrimas e ressentimentos.
Ao fim e ao cabo, é tudo muito hilário. Pare, pense e me diga se não.
Se mexicano fosse, diria : ai, ai, ai, ai, ai!
ResponderExcluirNão sendo, devo admitir que estou impressionado!
Yes, dear, o assunto rendeu... e renderia uns bons tratados. Eu nem entrei na matéria hardcore da questão. Aguardemos ;)
ResponderExcluirFoi muito revigorante, aliás, sempre é ver o mundo da perspectiva do observador, ainda mais quando se trata de sua própria vida. Dá a dimensão do cômico, esvazia a do trágico.