quarta-feira, 6 de abril de 2011

Eu tô aqui em Lima, eu tô do lado...

Sempre me pareceu completamente absurdo precisar chegar com duas horas de antecedência ao aeroporto nos poucos vôos internacionais que tive o prazer de frequentar. Mas, depois que consegui perder um destes na volta de uma viagem, e morrer numa grana que eu já não tinha para remarcar o vôo, para hospedar-me durante a inesperada 'noite extra' e até mesmo para comer alguma coisa, resolvi ser um pouco mais compreensivo com essa margem de segurança. Afinal, tenho o hábito de chegar atrasado, mas sou extremamente pão-duro.


Nesta última viagem, estava acompanhado de meu amigo Bruno, o monstro. Eu, que sempre preferi viajar sozinho podia, depois de muitos anos, fazer comentários in loco e ao vivo sobre os acontecimentos da viagem, além de aproveitar o descaralhamento e a desinibição prática do meu grande compadre para, quem sabe, conhecer mais gente do que de costume.

No tédio da espera pelo embarque, o papo:

- Brunão, aquele ali não é o Muhlenberg?
- É sim, cara...
- Então aproveita o teu escracho constitutivo, e vai lá falar com ele, ora!

Mas o monstro refugou, e não soube expressar a grande admiração que a gente sente pelo cara. Ao menos em palavras. Não naquele momento. E tá certo que tietagem não é nosso forte, mas a gente desdenhou demais da conspiração a favor. Afinal, o cara é totalmente flamengo, xará do galinho, e samba na lama de sapato branco com seu 'humilde bloguinho' sobre o fuderosão das galáxias, esbanjador de pós-potência na prática desportiva e galudo-máximo do futebol brasileiro, único hexacapeão de futebol masculino do país, o urubu-rei da porra toda: o meu, o seu, o nosso e de quase todo mundo, Mengão...

Ademais, todos estes prós na conta do Arthurzão não eram páreo para a pedra filosofal contida na feia de shape, mas cheia de ideias, cabeça do sujeito. Muito mais importante do que tudo isso, ele era nossa única chance de descobrir onde poderíamos assistir, lá em Lima, à semifinal da Taça Guanabara contra el Foguito, que seria dali a alguns dias.

Mas, mesmo com tanto motivo para abordar o cara, antes do embarque ficamos só moscando. Entrando no avião, quando passamos por ele, já acomodado em sua poltrona-patronagem-master, engolimos a saudação. O cara já havia encaixado os fones de ouvido mequetrefes que as aeromoças oferecem e praticava uma espécie de alheamento boladão. Por fim, todo mundo ali estava no aeroporto desde as três da matina e, até por isso, levantar durante o trajeto e arriscar arrancar o malandro do cochilo seria patético. Então, fomos ficando...

No fim do vôo restava pouco a fazer. O cara estava grudado na porta, levando só uma mala de mão. Até a gente sair, lá da rabeira, ele já teria ido embora, com certeza. Chegamos para pegar as malas sem esperanças e, considerando fracassada a missão 'falar com o Muhlenberg', vaguei em busca de nossos primeiros trocados em moeda local, simpaticamente chamado de "Sol". Para minha surpresa, recém amanhecia na minha carteira, acenderam a luz de um guichê, logo ao lado. Tava ali o Muhlenberg. Veio o funcionário, só pra ele. Pensei: esse cara é play!

Corri pra convocar o monstro e, zerando a palhaçadinha, abordamos o cara. Depois da primeira troca de delicadezas protocolares, o Bruno - que é o cara bronco - acabou sobressaindo como o mais simpático do trio. Foi ele quem conseguiu conciliar a minha afobação agressiva com a agressividade afobada do Mulão. Afinal, o cara só estava ali, falando com a gente no guichê supostamente exclusivo porque, já na saída, implicaram com o segundo laptop dele. Porra, o cara é patrão, mas nem tanto - pensei... Anotamos o número do quarto e o hotel em que ele estava e ficamos de ligar.

Dia do jogo, ligamos e confirmamos hora e local: Media Naranja era o nome do bar brasileiro, servido por garçons peruanos e com uma decoração duvidosa que parecia querer contemplar, de uma só vez, toda a nossa diversidade e nosso imenso potencial farofeiro. O Arthur já estava lá quando chegamos. Na verdade, era o único ser humano no bar e, sentado incrivelmente torto na cadeira de plástico, observava a programação aleatória da televisão em êxtase barroco.

Acompanhados da amiga peruana, fechamos uma mesa com ele. Depois da primeira rodada de cerveja, já éramos grandes amigos - um pequeno enclave da Nação em terra estrangeira. Mas (coisa linda) nossa torcida transborda não só as fronteiras do estado, mas os limites do país. Somos muitos! Assim, logo o bar estava completamente tomado por rubro-negros frenéticos e ruidosos. Mantendo as proporções da sede, éramos uns 30 flamenguistas contra a torcedora alvinegra solitária. Ela, coitada, meio encabulada pela infelicidade de escolher o time errado para torcer, assistia à nossa festa tentando esconder a comoção.

De fato, foi uma festa linda! Tudo começou mesmo quando um camarada do Arthur, que tá morando por lá, gente boa toda vida, chegou com o bebê no colo, mas entrando de sola: "Flamengo eu tô aqui em Lima, eu tô do lado!" Nativo do Méier, o malandro não perdia a oportunidade de lembrar "conhecer de vista" as diversas conterrâneas dele que floriram nosso bar para gritar pelo Mengão. Niterói, cidade onde eu e o monstro nascemos, também representou bonito com um trio de generosas retaguardas balançantes. Se perguntássemos aos passantes qual é a torcida mais bonita, tenho certeza de que todos responderiam, mesmo conhecendo somente aquela diminuta fração da Nação, que era a nossa. E eles estariam certos!

Durante o jogo, o primeiro tempo - todo nosso! - atiçou a filial limenha da maior torcida do Brasil, e chegamos a virar atração turística. Locais e gringos se emparelhavam na admiração pela pequena demonstração de rubro-negrismo internacional, alguns filmavam - imagens históricas! No segundo tempo, o Arthur - desavisado - deu mole, e quebrou a corrente na urgência de descartar o excesso de água que toda cerveja traz. Acabamos tomando um gol. Mas nem assim esmorecemos. As bolas adversárias passavam perto, sem abalar nossa convicção de levantar mais uma vez aquele caneco. Ademais, empatar com o botafogo em decisões, ultimamente, é até previsível. O detalhe é que a gente empata, mas leva... A ele, resta chorar...
Quando terminou o jogo, por mais que a gente já soubesse que o 'mais querido' nos daria esta alegria, comemoramos muito mais essa conquista. A amiga botafoguense prometeu rever o equívoco primordial, e acenou positivamente com a possibilidade de converter-se e fechar com o certo. Depois de tudo, povo rubro-negro em Lima dispersado, ainda demos mais umas voltas com o Mulão, que se mostrou um cara essencialmente gente fina, especialmente nos dias que o flamengo conquista alguma coisa. Ainda que se trate do primeiro turno de um campeonato que ganhamos quase todo ano.

A impressão que fica é que cara é como o Flamengo. Amado ou odiado por milhões, meio mambembe, completamente fanfarrão-with-lasers e abençoado por uma humildade completamente desproporcional às suas conquistas. Porra, Muhlenberg, prazer inenarrável conhecê-lo... A gente se encontra em Tóquio, ainda antes de acabar o mundo, para mais uma conquista do Mengão!

14 comentários:

  1. Boaaaaaaa... Muito bom seu post. Parabéns. Prometo voltar aqui mais vezes.

    SRN!

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  2. SRN muito boa historia

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  3. Excelente história! Arthur parece ser sangue bom demais!!!

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  4. Sempre que escrever Flamengo que seja com a primeira letra maiúscula se não toda a palavra. Jamais tudo minusculo. Mais um filho da Nação!

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  5. Felipe Malta Rebello6 de abril de 2011 às 21:36

    história maneira

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  6. Mando bem cara,muito bom o blog! DALHE MENGAOO! SRN

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  7. Boa velho bela historia ! SRN

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  8. Pow kara parabens por isso q passou, muito boa a historia.... ae olha o blog dele ....

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  9. É isso aí, nos encontramos em tóquio antes do fim do mundo!

    hahahahaha

    abc,
    Marcelo

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  10. Isso ae, é a Nação-Rubro-Negra, representando em todas as partes do MUndo..Excelente História
    SRN
    Romildo Junior

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  11. Gostei do texto meu parça..
    Mengão é isso ai. arrasando a cachorrada e as gringas do mundo todo :)

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  12. O que leva um cara a fazer parte da Nação? Só pode ser a possibilidade de estar "do lado", independente da distância. Me senti "do lado" lendo o seu texto.

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