segunda-feira, 18 de abril de 2011

Palavrório

Escrever é complicado. Penso nisso toda vez que leio alguém mais literato, e isso acontece com alguma frequência. Na imprensa convencional, careta, é até raro, mas não falta bloguinho que nego humilha na malemolência, na erudição, nas citações psicanalíticas ou filosóficas ou em tiradas realmente hilariantes.

Tenho uma queda por citações certeiras. E tem gente que cita até Deleuze! Aí eu piro, acho tudo aquilo lindo. Nas minhas erráticas leituras dos clássicos ou chatos das ciências sociais, aprendi o suficiente pra saber que entendo pouco, um nadinha. Dele, Deleuze, e do Nietszche, por exemplo. Esse então, enquanto eu assino Braz - um zêzinho só, humilde - o cara tem zê e esse, juntos. Na verdade, a reunião de tantas consoantes, por si só, já é um desafio. A complicação começa pela grafia do nome. É incrível, um supra-sumo do desafio literário.

Mas para escrever "bem", tem aquela estória do vocabulário. Sempre me impressiono com palavras difíceis bem colocadas. Acho isso um barato. Mas, fico pensando: se eu que já sou um pouco bom nisso, às vezes tenho dificuldade para apreender a profundidade de um bom vocabulário usado de forma articulada, e o resto do planeta? Olha que eu até arrisco uns exotimos imprecisos quando escrevo ou falo. E quem passa longe de entender ao menos precariamente o sentido de palavras como obliteração, devir, tergivesação, meridional, exegese... Como é que faz?

Cadafalso, calabouço... A justa medida é uma prisão. Para arriscar um texto, há de se saber por quês, de perceber os limites de um leitor específico, de reverter poréns, de elucidar qualquer detalhe óbvio, mas até então despercebido. É a magia do negócio: ser compreendido, ainda que fugazmente. Quiçá até emocionar com isso.

Escrever é sacrifício, catarse, problema, ofício. Algo que me imponho sem muita convicção ou constância, por acreditar ter mais palavras do que assunto. Mas gosto delas como gosto de música: suas sonoridades, seus timbres, os conceitos que condensam, sua diversidade absoluta. Palavra, para mim, é como tantos outros vícios... Mas o punhado de gente que me lê - tudo bem, tá certo - não tem nada a ver com isso!

Nenhum comentário:

Postar um comentário