quinta-feira, 27 de maio de 2010

Universo-idade

Já faz um tempo que, enquanto conversava com um grande amigo sobre coisas banais, percebi que ele insistia em levar o assunto até um patamar não tão alto, ao ponto de que eu não conseguisse distingui-lo de uma parede, nem baixo o suficiente para ser tratado como degrau. Me sentia perdendo o ponto por pouco e, astuto que sou, soube perguntar que diabos era aquilo que ele estava fazendo. Ele, astuto que é, contou que devia tratar-se dos estudos recém iniciados. O novo milênio mal havia começado e eu, até um pouco tardiamente, descobria a eloquência adolescente das ciências sociais. Soube que, dentro delas, descontando a política, que nunca foi minha praia, os velhos mais barbudos tem cento e poucos anos. E que mulheres exóticas e sortidas igualmente interessavam-se pelo tema. Cofiei a barba, vastíssima àquela altura, e concluí que desenvolver a lábia e estudar mais lábios femininos era justamente o que eu estava precisando.

Depois do longo limbo musical, quando vivia de sonho, resolvi voltar à universidade para tentar exercitar os meus gordinhos e relaxados, embora surpreendentemente bons de bola, neurônios. Prestei o vestibular...

Classificado?

Não... Nem quase.

1ª reclassificação! E aí!?

Não... Nada.

2ª reclassificação... Foi?

Nem...

Depois disso, não sei bem onde, vi um comunicado dizendo que os interessados em concorrer a futuras reclassificações deveriam comparecer a um determinado lugar, sob risco de serem banidos para sempre do concurso. Nem sei por que fui, mas fui. Era um lugar estranho... Tinha algo a ver com enfermagem... Lá, assinei alguma coisa, e voltei pra casa...

Tampouco lembro como, mas me procuraram. Passei! Porra, tirei quase 10 na redação! Era justo... Mas passei em último... E o sujeito classificado logo a minha frente, que conheci no dia em que me apresentei para a matrícula, parecia seriamente limitado. No fundo, contudo, estávamos todos - do primeiro a mim -empatados, recebendo a mesma dádiva: os gramados do gragoatá, as peladas no fim de tarde e a famigerada 'copa de golzinho', a avenida Bob Marley, os barbudos, as beldades, as festinhas, os festões e as festas médias, o visual da baía, o pôr-do-sol desconcertante, as rodas de baralho, o xadrez introspectivo, o xadrez festivo, o xadrez noturno, o bate papo no chão, sob as árvores, os dois bancos de kombi, os assuntos baldios, alguns loucos varridos, outros por panos passados, a goiabeira, as guerras mundiais nos tabuleiros, o Sistema sob críticas, chacotas, estudos,  o Sistema sobre todos, uma mulher, a filha e alguns dos melhores amigos que se pode conseguir. Tinha até aulas nos intervalos disso tudo.

Difícil saber se valeu a pena.

Pena que acabou.

Um comentário:

  1. Eu entrei de cara, pela vontade de sair de casa e mudar de cidade. Passei em segundo, tendo na minha frente um Marco, que fez décimos de centésimos de pontos a mais do que eu. Não importava. Foi bom pra alegria de saber-se dentro logo, só com os mais que noves das notas. Pra ouvir, do outro lado da linha, o choro da minha mãe amedontrada e, assim, ter toda a certeza de que tinha que deixá-la.

    No primeiro dia, o Pedro da minha sala da pequena cidade, o que sentava no fundo e me criticava pelo intenso interesse nas aulas, sentava-se ao meu lado.

    Era liberdade o que almejava. E atrás dela eu fui, pra descobrir - na prática e na teoria - que ela não existia.

    A gente sempre se ata...

    ResponderExcluir