segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Blocos

Escrever em bloco pode ser complicado. Um meu mui amigo disse que meu estilo, de espaçar parágrafos, estaria ultrapassado. Engolido pela grande rede, um método pelo qual tenho afeto, talvez até apego, de fato soçobra nas constantes renovações da escrita. Novos acordos firmando-se sem meu consentimento; dialetos festivos da classe média informatizada, de gente metade robô, metade gente mesmo, que entendo cada vez menos. Minha fluência, fugidia já nos tempos de maior estabilidade gramatico-poética, torna-se proto-poesia de um discurso sonso. Me sinto presa de meus segredos. E como mudar de assunto, se não se pode pontuar uma frase de efeito e ter o tempo de pular a linha antes de embarcar numa ideia conexa? Igual fazíamos nos cadernos, nossos cada vez mais ameaçados de extinção anti-heróis da infância e eventuais companheiros de pós-adolescência. A concretude do bloco, afinal, não dá conta de descrever a forma espasmódica do pensamento. Gosto dos travessões, dos apostos. Gosto das lacunas que eles preenchem. Mas um parágrafo te obriga a parar e pensar. Faz bem mais do que um ponto, muito mais que uma vírgula, mais talvez do que algumas reticências... Ditados e lendas prescrevem paciência: rimas raras são pequenas clarabóias entre a alma do autor e a do sujeito que lê. Pseudônimos inúteis, estamos sempre revelados pelo que escrevemos. Uma nudez inventada pelo ritmo das palavras, expressões, figuras de linguagem e acentos que escolhemos. Auto-exposição controlada, ainda que precariamente.


Só precisamos pular a linha. Ainda assim, muito de vez em quando.

(Originalmente publicado em http://prosadasemana.blogspot.com/)

Um comentário:

  1. Ainda aposto também no espaço para silêncios necessários, que se fazem nas entre-linhas.

    E o parágrafo então, que mais do que uma troca de assunto pode ser uma reviravolta completa?!

    Gostei do texto.

    Bj

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