Mostrando postagens com marcador Escutando o mundo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Escutando o mundo. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 8 de junho de 2010

Prato cheio

Outro dia, minha ida para o trabalho foi um prato cheio.

Em frente à entrada do metrô, me dei conta da ironia de um cara que comprava um guarda-chuva e parecia ser mais humilde que o vendedor. Produto já vendido, enquanto o primeiro se afastava, o segundo fez questão de afirmar que o guarda-chuva duraria até a copa... de 2014! La garantia, por supuesto, era él!

Depois, lançou a pérola, já um pouco gasta:

- A copa de 2014 no Brasil não vai ter, não... O mundo vai acabar em 2012!

Acho que foi a maneira como disse que me arrancou um sorriso...

Entrei na estação do metrô e, ainda na escada, arranjei uma postulante à esposa: uma moça descia uma mala enorme com a ajuda das rodinhas e, apesar de apressado como sempre, ofereci ajuda. Na verdade, estava me dando nervoso a lentidão com que ela manobrava a mala e os sobressaltos que tinha cada vez que esta despencava de um degrau para o outro. Mas, feita a proposta, ela, com uma afetação mal disfarçada, disse "se você puder, mas está pesad... Oh!", quase explodindo de contentamento quando eu levantei a tralha. Na verdade estava bem leve, e desci quase correndo como de costume. Lá embaixo, plantei o objeto no chão e recebi a gratidão estremecida:

- Obrigado, meu anjo...

- De nada...

Pensei querida, babe, minha linda, minha flor, cariño, minha deusa... Mas ela não era nada disso e, apesar de usar tratamentos desproporcionais quando dentre amigos, evito fazê-lo com desconhecidos. No caso, até por falta tempo ou gana de fomentar falsas esperanças numa passante e sua mala gigante.

Por fim, foi a coisa da franja!

Mas é preciso voltar um pouco no tempo para entender porque achei tão hilária a cena que provavelmente passaria despercebida para praticamente todo mundo.

Há alguns dias, contava uma estória para a Lili e ela me interrompeu dizendo que eu deveria cortar minha franja. Gargalhei de orgulho. Porque, antes dos aparos regulares na franjinha dela, passa-se um tempo em que todo mundo a aconselha a fazê-lo. E ela, que sabe-se lá em que foca quando olha pro espelho, provavelmente não vê a sua própria franja grande, mas a sente. Entende a situação e, quando me deu a dica, ligou o comentário das pessoas a um desconforto difuso, como as pontas dos cabelos começando a chegar à frente dos olhos, e tudo isso aos poucos cabelos que me caíam da testa aos olhos. O raciocínio dela não foi nada trivial, e eu me diverti muitíssimo com aquilo. Ademais, estou mesmo precisando cortar o cabelo. E, se ainda não o fiz, é porque o tempo de cabelinho pro lado, e os quase 10 anos de cabelo comprido, me deram inusitada adaptação (ao menos para homens) para enxergar através dos fios.

Eu no metrô, fone no ouvido, assisti a um velhinho vir esbarrando em TODAS as pessoas entre o lugar onde estava e a porta, por onde sairia. Ele, a cada esbarrão, virava para sua vítima e pedia desculpas sinceras com um sorriso cativante. A música explodindo na cabeça, e os meus olhos tomados pela ação do velho, eu sequer me apoiava em lugar algum. O observava detidamente quando me dei conta que, da calva bastante pronunciada (ele só tinha seus brancos cabelos sobre a nuca e as têmporas, estilo 'Mestre dos Magos' de cabelo curto!), bem do topo da cabeça, brotava um fio. Branco como os outros, este parecia especialmente longo. E rijo! Afinal, apesar das trombadas do simpático e sorridente senhor, das freadas e acelerações do trem e dos eventuais jatos de ar condicionado, o tal do fio permanecia estável: caía exatamente em frente ao olho esquerdo do sujeito, como se o quisesse furar...

Pensei, lá comigo, que ele devia aparar a 'franja'...

domingo, 2 de maio de 2010

Entreouvido no trânsito

O sujeito bota a cabeça pra fora do seu carro esportivo e olha pra trás, onde um negão forte está debruçado na janela de sua caminhonente, e dispara:

- Tu é 'mó' maizena, compadre!

Ao que o outro retruca:

- Tá maluco, me'rmão? Eu sou nescau...

terça-feira, 13 de abril de 2010

Da sorte das moscas e dos médiuns

Eu penso muito. E, talvez por isso, passo boa parte do tempo em que caminho pelas ruas olhando pra baixo. Mas não me detenho nos detalhes dos calçamentos, nem no provável cardápio dos cachorros que se aliviam pelas ruas, nem na diversidade de detritos que boa parte das pessoas consegue, simplesmente, atirar ao piso. Na verdade, enquanto penso, tenho os olhos baixos, mas desfocados...

Assim, nos lapsos entre os pensamentos, acabo escutando cada pérola. E rio sozinho, às vezes só por dentro, de tanta coisa que o povo fala.

Me diverti muito (embora quase ninguém para quem contei tenha achado qualquer graça) quando ouvi o sujeito que vendia raquetes eletrificadas dizer:

- Mata mosca, mata mosquito... E quando morreu, já sabe: tá morto!

Achei hilário! (sério!)

Mas hoje foi um pouco diferente... Depois de três semanas longe da cidade, ouvi um novo chamado, numa voz aguda:

- Chico Xavier, Chico Xavier... O filme!

Pensei um pouco nele, no Chico, o Xavier... Da mãozinha no rosto para psicografar, e toda a estória com a peruca... Então, ressoou, grave como um trovão, uma voz pra lá do além:

- CHICO XAVIEEEEEER...

Tive medo... E nem virei para conferir...